IMAGENS DE UM COTIDIANO
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Fragmentos do cotidiano
Pelotas
Rio Grande do Sul, Brasil
Maria da Glória Oliveira do Nascimento
A partir do meu cotidiano no bairro Porto localizado na cidade de Pelotas no Rio Grande do Sul exponho neste ensaio as diferentes formas de habitar uma região portuária e as práticas sociais que se processam no local. Pelo sentido de pertencimento que desvendo um fragmento do ambiente urbano que resido.
Amanhece, ao olhar para a janela do quarto presencio o encontro dos feixes de luz vindos do abajur e da claridade que invade o quarto pelas frestas da persiana anunciando o início de mais um ciclo do cotidiano. Na vidraça um recorte do cenário exterior representa um convite para a continuidade de meus planos e oferta um momento de reflexão para que eu busque o meu melhor e lapide minha performance como ser coletivo.
É do interior de minha casa que vejo os reflexos do que acontece na minha rua, professando a minha fé sigo em frente preparada para mais um dia.
No meu bairro é natural ocorrer o plantio de árvores pelos moradores na frente de suas residências e a paisagem das ruas foi transformada por esta apropriação do espaço resultando no aparecimento até de arvores frutíferas tais como; limoeiro, pitangueira, laranjeira, mamoeiro e até um loureiro tem suas folhas ao alcance das mãos de quem passa pela calçada. Aromas e cores atribuem ao local um ar nostálgico que desperta memórias e encantam o olhar.
Apesar de abrigar o porto da cidade as ruas têm pouca circulação de veículos e pessoas a calmaria é parte integrante do cenário, porém, como na maioria das zonas urbanas a violência também se faz presente e os moradores utilizam grades, cercas elétricas e trincos para garantir a segurança de seus lares. As vias por apresentarem pouco movimento, nas primeiras horas da noite estão desertas.
Eu, como moradora do local há muitos anos, assimilei alguns hábitos como por exemplo plantar, realizar caminhadas, apreciar o contato com a natureza e manter com a vizinhança laços afetivos que envolvem carinho e respeito.
Ao pensar o bairro e a rua onde moro tenho a percepção das configurações que se processam, os imóveis residenciais com um pavimento tão característicos do espaço, estão dando o lugar para prédios mais elevados.
Na frente da minha casa foi construído um belo edifício de poucos andares que recebeu o nome da rua, Francisco Xavier Ferreira, isto alterou a rotina da pacata rua com a saída pela manhã dos ocupantes dos apartamentos e o retorno dos mesmos no final do dia. Os pets destes também surgem na calçada para realizar o seu passeio, aliás, na minha rua é comum as pessoas possuírem cães e gatos e acolherem os animais abandonados fornecendo alimentação e água constantemente.
As imagens que observo no cotidiano e as minhas vivências são importantes para o meu crescimento pessoal. A arte da escuta proporciona a reorganização de conceitos e maleabilidade ao pensamento para que assim, possa compreender as pessoas que convivem harmoniosamente comigo no bairro. É o acolher, compartilhar dores e anseios e principalmente transmutar frente a dinâmica das relações sociais, contemplando outras histórias que são tão importantes quanto as que carrego.
Ao circular pelo meu bairro sou surpreendida com frequência por novos acontecimentos. Desnudar a dinâmica local através do seu movimento exige sensibilidade para que a realidade contemporânea revele as diferentes formas de vivenciar o espaço.